BELO HORIZONTE/MINAS GERAIS - Exatamente cinco anos depois de fechado ao
público, um dos mais belos patrimônios da capital foi reinaugurado no final de
abril com a emoção, alegria e admiração que merece.
No Museu de História Natural e Jardim
Botânico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no Bairro Santa Inês,
na Região Leste da capital mineira o centenário Presépio do PIPIRIPAU entra de
novo em cena para contar a história de Jesus, Maria e José de um jeito bem
mineiro. Numa área de 20 metros
quadrados, estão distribuídas 586 figuras entre cerca de três mil peças criadas
pelo artesão Raimundo Machado Azeredo (1894-1988) .
História Sagrada
O presépio encanta pelas
suas peças que movimentam
Com 45 cenas em movimento e sobre um tablado
em vários níveis, o presépio mostra momentos da história sagrada, como a
natividade na gruta de Belém, a matança dos inocentes, o Menino Jesus entre os
sábios do templo, a santa ceia e outros quadros que traduzem a cultura mineira,
como uma igreja colonial com os sinos tocando, um barqueiro no lago, pescadores
à beira de um rio, um sanfoneiro e um sapateiro. “O presépio está funcionando
maravilhosamente. É uma obra ímpar por sua delicadeza, inocência e capacidade
de nos transformar”, ressalta o professor da Escola de Belas-Artes da UFMG, Fabrício
Fernandino, coordenador geral do projeto de restauração e professor da Escola
de Belas Artes.
Novidades
Quem visitar o presépio terá novidades, a
começar pela casa que o abriga, igualmente restaurada e com equipamentos para
facilitar a visualização e compreensão do PIPIRIPAU. Na varanda, há um visor
(pano de vidro) que permite a qualquer um vislumbrar o funcionamento do
maquinário de madeira e engrenagens, enquanto no fundo está a sala de
manutenção. Na sala principal, onde fica o presépio, a arquibancada foi
retirada, garantindo mais espaço para o público acompanhar a apresentação com
10 minutos de duração. O projeto abrangeu a restauração e modernização da obra,
aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN),
com financiamento regulado pela Lei Rouanet e patrocínio do Instituto UNIMED-BH.
O custo da intervenção foi de R$ 565 mil.
Obras de valor histórico e cultural
Bonecos movimentam mostrando o nascimento do
menino Jesus
E tem
muito mais na casa que abriga a obra de valor histórico e cultural: ao lado do
presépio, foi reservado um espaço para exposição de painéis e instalado um
monitor mostrando vídeos sobre o patrimônio concebido por “seu” Raimundo, um
homem autodidata. Para conhecer melhor a história dele, outro ambiente recria a
oficina na qual trabalhou para entregar, aos mineiros e visitantes, algo tão
especial e comovente até para quem lida com ele diariamente desde 1993.
Responsável pela manutenção do acervo, tendo
participado inclusive da montagem e desmontagem, Carlos Adalberto Alves dos
Santos, de 47 anos, só tem uma palavra – “maravilhosa” – para resumir o
restauro da obra coordenada pela diretora do Centro de Conservação e
Restauração de Bens Culturais Móveis (CECOR/UFMG), professora Bethânia Reis
Veloso.
Destaque
Compenetrado no serviço, Carlos Adalberto
destaca a qualidade de cada peça restaurada e aponta as cenas que mais gosta no
presépio, entre elas aquela em que Jesus está serrando a madeira, sob o olhar de
Jesus, enquanto Maria trabalha no tear. “Toda a madeira do mecanismo, que é
acionado por um motor, foi trocado, assim como algumas destruídas pelos
cupins”. Ao lado, colocando areia branca nos caminhos que levam à história
sagrada, que inclui o nascimento, a vida, a morte e ressurreição de Cristo,
Célio José da Silva, também funcionário da universidade e que “deu uma força”
na montagem, conta que trabalhou com Raimundo nos últimos três anos antes da
morte do artesão. “Fui seu discípulo. Tenho muito orgulho de ter convivido com
ele, que tinha grande capricho com sua obra”, afirma.
Religiosidade, engenho e arte
Impossível não ficar com os olhos brilhando e
o coração em festa diante do Presépio do PIPIRIPAU, que volta à cena hoje no
Museu de História Natural e Jardim Botânico da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), no Bairro Santa Inês, na Região Leste. Em cena, estão peças
modeladas em argila, papel machê, conchas e outros materiais movidos pelo
engenhoso maquinário desenvolvido com barbante, carretéis de linha, polias,
mecanismos de relógio, radiola, gramofone e outros equipamentos que Raimundo
Machado Azeredo, o criador, foi conhecendo no dia a dia.
Em 1984, o presépio foi tombado pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Para o reitor da UFMG,
Jaime Ramirez, “o PIPIRIPAU é um dos maiores patrimônios de nossa cultura, a
obra da vida de um grande artista popular. As cenas e personagens que ele
construiu aliam a religiosidade do povo mineiro, a simplicidade de seu
cotidiano e o deslumbre com os engenhos. À medida que ia tendo contato com as
tecnologias, que rapidamente se sobrepunham no século 20, foi incorporando-as à
instalação, sempre para permitir uma nova representação. Para a universidade, é
um orgulho devolvê-lo restaurado a Belo Horizonte”.
Fechamento para reparo
O artesão
Raimundo Machado Azeredo idealizador do PIPIRIPAU
O presépio foi fechado em abril de 2012,
quando foi executado o diagnóstico para reparo. A partir daí, foram elaborados
os projetos complementares para a nova edificação, como instalações elétricas,
hidrossanitárias e de prevenção a incêndio, segurança eletrônica, sonorização,
sinalização de emergência, entre outros. A restauração de todas as peças foi
mapeada e registrada em vídeos e fotografias.
O trabalho começou em 2014 e ficou a cargo do
Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais (CECOR) da UFMG, com a
participação de mais de 50 bolsistas de várias áreas. Além disso, contou com o
trabalho voluntário de professores do curso de engenharia elétrica e engenharia
hidráulica e recursos hídricos da universidade além de outros profissionais e
empresas privadas. A construção de uma passarela de acesso para cadeirantes,
pintura e reforma do telhado da sede foram executadas pelo Departamento de
Manutenção de Infraestrutura (DEMAI) da UFMG.
Cada peça recebeu uma ficha, como se fosse um
“prontuário médico” e foram diagnosticadas todas as patologias e danos. “Os
registros fotográficos e pequenos filmes que fizemos foram fundamentais na
montagem da cenografia, para localizar a posição de todas as peças e permitir
que tudo voltasse ao lugar exato”, explicou a coordenadora técnica da
restauração do presépio e especialista em restauração do CECOR, Thaís Carvalho.
Presépio conta com 586 figuras em uma área de 20 metros quadrados
Coluna: Minas TURISMO Gerais
Jornalista Sérgio Moreira
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