RECIFE/ PERNAMBUCO - Decantei. Esperei serenar os ânimos. Lado a lado. Nada de etarismo. Respeito o seu incomensurável valor artístico. Dona de um talento de reconhecimento mundial, a estrela Madonna aos 65 anos comemorou no Rio de Janeiro, precisamente na bela Copacabana, os seus 40 anos de carreira artística.
Dados informam que 1,6 milhão de pessoas estavam nas areias de Copa e em todo o seu entorno em direção à praia do Leme, bairro onde morei vizinho de Clarice Lispector. A plateia deve ser computada desde os que estavam postados nas varandas lotadas dos apartamentos da Avenida Atlântica, com palco montado defronte ao lendário Copacabana Palace até a quantidade imensa de barcos, lanchas e iates de cuja visão exibida pelo Globocop mais parecia que havia sido criada uma ilha no mar da praia carioca. Público que atesta o seu sucesso. Para quem foi para lá, certifica que faz parte dos seus admiradores.
Para nós que não saímos de casa, é bom lembrar que não vivemos numa ditadura de canal exclusivo. Se sintonizamos o canal 13, em Recife e sua área metropolitana, foi uma opção. Assistir ao Celebration era porque queria vê-lo. Por coincidência, logo perto, canal 11, a TV Universitária, exibia um documentário sobre Dominguinhos, opção bem regional. Uma alternativa pernambucana. Outra opção, seria desligar e pronto.
Um megaespetáculo
O show de Madonna, eu sabia que era um megaespetáculo. O que existe de mais moderno e atualizado em tecnologia. Comparável ao que é exibido na Broadway ou em Londres. E este foi o primeiro motivo da minha curiosidade. Espetáculo de primeiro mundo. Impressionantes os recursos adotados e as soluções técnicas aplicadas com seus efeitos eletrônicos.
Quanto a Rainha mundial do Pop, eu não sabia o que iria ver e até quanto e quando aguentaria assistir a sua performance vez que ela resolveu contar a sua história. Ora, Madonna se consagrou pela luta em favor da liberdade e da libertação sexual da mulher e ultrapassou os limites das diversas opções e orientações sexuais. O espetáculo não poderia ser diferente. Foi assim que ela fez sucesso e se consagrou. Mostrou talento, competência e conquistou público. Madonna mostrou sua vida desde os 15 anos. Uma vida tumultuada. Escrachada. Violenta. A popstar mostrou-se até certo ponto agressiva, ultrapassando os limites da ousadia e do atrevimento.
Enquanto eu admirava as soluções técnicas dos múltiplos cenários que buscavam os mais diversos símbolos inclusive a cruz dos cristãos, católicos ou não, maioria da religião entre os brasileiros. Depois incluía ritmistas das escolas de samba carioca. Adotou o funk. O rap. É de destacar que Madonna valorizou os artistas brasileiros, cedendo espaços para Anitta e Pabllo Vittar coerente com o seu mundo. Homenageou, também, Cazuza, Betinho e Renato Russo. Até o discutível uso das cores da nossa bandeira verde e amarelo não deixou de agradar uma ala política.
Mas, claro ela exibindo a sua história, não deixou de, dividindo com seus bailarinos, mostrar uma nudez em excesso, exibir cenas com simulação de sexo de todas as formas como masturbação, sexo oral, sexo grupal, cenas de carícias homoafetivas inclusive beijos entre homens e mulheres que se estenderam para plateia e outras maneiras mais radicais para agradar o seu público LGBTQIAPN+. Daqui a pouco, vira um alfabeto. O que esperar dela? Isto é Madonna e os seus valores. Questão de coerência!
Desliguei
No meu caso, chegou a um ponto que desliguei. Peguei o livro que, na altura, estava lendo “Arrancados da terra” de Lira Neto, uma história judaica que tem tudo a ver comigo. Já tinha visto toda a tecnologia de ponta!
De Madonna, o mais importante é o beneficio que ela trouxe para o Rio de Janeiro, sobretudo, turisticamente. O atual prefeito Eduardo Paes que é candidato a reeleição mirando a candidatura a governador em 2026 já anunciou que a partir de Madonna, em todos os meses de maio vindouros, haverá no Rio, em Copacabana, um show de dimensões mundiais. No entusiasmo, o Prefeito Eduardo declarou: “O Rio é desejado pelo mundo”.
E o que dizer da repercussão internacional do show de Madonna?
O francês Le Monde considerou “uma estrela global, uma cidade de sonho, uma praia lendária” A revista americana Deadline afirmou “Madonna fez história” relembrando outros artistas que passaram pelas areias de Copacabana, como Rolling Stones e Rod Stewart.
“Megaespetáculo. Monumental. Épico. Histórico” foram expressões do britânico The Guardian. O Daily Mail, também, britânico, simplesmente estampou: “Deslumbrante”. O BBC classificou como “impressionante”. Associated Press: Madonna transformou Copacabana “em enorme pista de dança”.
O Turismo ganhou!
O que importa é que segundo dados oficiais do governo foram movimentados 300 milhões de reais na cidade do Rio de Janeiro e no Estado do Rio de Janeiro. A segurança funcionou. Foram 3.600 policiais durante o show. Apenas 38 pessoas foram encaminhadas às delegacias das quais somente sete ficaram presas. Comprovou eficiência.
De fato, recuperou a imagem do Rio de Janeiro. Ocupação hoteleira de 96%. Como destino turístico, isso não tem preço!
Inspirado no título do megaespetáculo: o Rio pode celebrar!
Esta crônica foi publicada na Folha de Pernambuco edição de 23/05/2024.
Foto: Divulgação oficial
Fonte:Ricardo Guerra
empresário e jornalista
frupel@uol.com.br
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