RECIFE/ PERNAMBUCO -Inimaginável. Na terra do Frevo e do Maracatu e de todos os ritmos. Não é um carnaval diferente. Simplesmente, não existe Carnaval. Domina a frustração, a tristeza, a nostalgia. Os sonhos perdidos. Os amores desfeitos. Os projetos frustrados. Não há espaço par a alegria de viver, a expansão dos sentimentos, dos risos livres.
Cadê as serpentinas e confetes? Cadê os estandartes, flabelos e pavilhões? Cadê as sombrinhas, o maior símbolo do frevo? Onde se esconderam as Troças, Clubes, Caboclinhos, Bois, La Ursas, Escolas de Samba, Tribos e Nações? E os Bonecos de Olinda? O homem da Meia-Noite? E as passistas e os clarins? E as cortes? Sim, porque Carnaval gosta de monarquia. Reis e Rainhas, Príncipes e Princesas, Embaixadores e Embaixatrizes, Fantasia, Alegoria, Criatividade!
Tudo isso foi vítima da agressão do até hoje, mal do século XXI, a Covid-19. O coronavirus encarregou-se de expulsar, pelo menos nestes anos de 2021, os ânimos vibrantes de toda uma população ávida por comemorar a maior festa da nossa cultura, o Carnaval. A partir do sábado de Zé Pereira, com o cancelamento do desfile do nosso Galo da Madrugada, considerado pelo Guinness Book, como o maior desfile de bloco do mundo, concentrando mais de dois milhões de pessoas pelas avenidas, ruas pontes e nas águas do Capibaribe vendo a passagem de mais de 30 trios elétricos. E sua majestade reinando na Duarte Coelho.
Em 2021, não seria exagero dizer que foi um Carnaval i.m. Ainda que emocione. Foi o Carnaval para reverenciar os compositores. Nelson Ferreira, Irmãos Valença, Capiba, José Menezes, Levino Ferreira, Edgar Morais, Mestre Salustiano, Luiz Bandeira, Aldemar Paiva, mas vibrar com Alceu Valença, Otto, Lenine. I. Michiles, Getúlio Cavalcanti, a paraibucana Elba Ramalho, o Maestro Spock, Nena Queiroga e outros.
Meditei muito sobre o prejuízo para a nossa economia. Quanto deixou de circular em toda a nossa cadeia produtiva! Quantos setores foram atingidos! Dos ricos aos pobres. Dos hoteleiros aos catadores de latinhas. Da indústria, do comercio, dos serviços, do artesanato, do turismo – talvez o mais prejudicado – até os informais, os ambulantes, os biscateiros.
Carnaval – Recife Antigo – Recife – PE -Erlan Gomes
Foi neste sentimento de muita melancolia que resolvi, em pleno Carnaval, visitar o Recife Antigo. Precisamente, a rua dos Bom jesus, antiga rua dos Judeus. Estacionei defronte da Sinagoga Kahal. Não havia serviços religiosos. Desta vez, não fiz orações. Com certa amargura, visualizei todo o trecho desde a praça do Arsenal até a avenida Marques de Olinda. Admirei os belíssimos prédios. Recordei que ali, em todos os carnavais, acontece o mais famoso desfile dos blocos líricos do Carnaval pernambucano. Pura emoção. Beleza autêntica. Fantasias. Máscaras. Coral.
Orquestra de Pau e Corda. Cordões de crianças à melhor idade. De testemunhas, só fixei os trilhos antigos dos bondes que passaram por ali até o século passado. Lembrei do meu professor e amigo Nilzardo Carneiro Leão, membro do Bloco da Saudade. Puras e verdadeiras reminiscências!
Triste, sentei numa cadeira ao lado do conterrâneo e boêmio Antônio Maria, autor do “Frevo número 1”. Sim. O famoso Antônio Maria está na Bom Jesus como estatua pertencente ao Círculo da Poesia de Recife e ali, recordando os carnavais passados, confidenciei a ele, os maravilhosos bailes municipais vividos no Clube Português. Ouvi, então, a voz inconfundível dela. Ecoou... Só poderia ser dela. A Rainha. Maria Bethânia” “Ai, ai, saudade, saudade tão grande”...Emocionei. Até 2022.
*Empresário e jornalista
frupel@uol.com.br
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