MISSÕES/BRASIL - De
10 a 12 de novembro de 2017 ocorreu um evento importantíssimo na cidade de
Mártires – Misiones – Argentina. As comunidades dos 30 Povos da Antiga
Província Jesuítica do Paraguai estiveram reunidas para reconstruírem seus
laços de união, estudarem sua história, reverenciarem o Povo Guarani e escolher
uma embaixadora para as ações promocionais que o Circuito Internacional das
Missões vem se posicionando para o mundo.
Entre as pesquisas apresentadas está o estudo de José
Roberto de Oliveira que analisou os documentos dos Jesuítas dos anos 1600 que
demonstram como o Povo da Redução Jesuítica Guarani de Caaró migrou para a
beira do rio Yabebiri (Mártires – Missiones – Argentina), local próximo onde
está o município onde se realizou o evento e não onde se pensava que era a
Redução de Mártires do Japão.
A redução Jesuíta Guarani de Caaró
A redução
jesuíta guarani de Caaró - ou Nossa Senhora dos Santos Mártires de Caaró (Del
Techo, p.460) diz que foi criada "Em homenagem aos nossos mártires do
Japão", em 1628, pelo Padre Roque Gonzales e Alfonso Rodrigues (atuais
Santos da Igreja), onde foram martirizados, naquele mesmo ano.
Pensava-se
que a redução havia sido desaparecida, todavia, o mesmo Jesuíta na (p.559) diz
que a Redução foi reconstruída e na (p.568) demonstra que os sacerdotes José
Oreggi e Pedro Espinosa batizaram mil e sessenta pessoas logo após a retomada
das ações de cristianização e no mesmo local onde anteriormente os Santos
Missioneiros foram mortos e ainda completa a ideia dizendo que a expressão
mártires era em homenagem aos mártires do Japão.
Na (p.601)
Del Techo escreve sobre o que ocorreu com o Caaró assim que os Bandeirantes
começaram atacar as reduções do lado esquerdo do rio Uruguai. Afirma que o
padre Ruiz de Montoya aumentou o seu medo. Afirmou que tinha obtido uma
revelação divina através de sonho de que aquelas reduções do Uruguai seriam
atacadas. A verdade é que, aterrorizada ao saber que estes estavam efetivamente
sendo atacadas, ele ordenou aos padres que deslocassem seus neófitos para a
região do Paraná, o que o Povo do Caaró fez e se estabeleceu nas beiras do rio
Yabebiri. Os de Caaró (p.613), “auxiliados pelos de Loreto e San Ignácio se
estabeleceram nas margens do Paraná”.
Ataque dos Bandeirantes
O ataque dos
Bandeirantes continuava e as reduções mais ao Sul, enquanto fugiam (p.602) os
neófitos das outras reduções destruídas se estabeleceram nos campos de Caaró e
Caasapamini, informação esta fundamental para entender as confusões históricas
que sucederam, pois estes é que posteriormente vão constituir a Redução de
Mártires do Japão em local da bacia do rio Uruguai, um pouco acima de Santa
Maria Maior. Prova deste movimento está na (Del Techo, p.626) que diz -
Enquanto isso, o provincial tentou reunir os neófitos de várias populações, que
por meio ano, para escapar da fúria dos mamelucos, residiam em Caaró e
Caasapaminí; Ele resolveu que os de San Cristóvão, São Carlos e os Apóstolos
São Pedro e São Paulo encontrassem um lugar além do Uruguai. Lá eles
construíram casas e um templo, e dedicaram o lugar aos mártires do Japão.
Completa a ideia eu [NICOLÁS DEL TECHO], embora indigno, trabalhei nela por
muitos anos; Hoje tem uma vida próspera.
Equívoco histórico
A indicação
de Del Techo mostra o equívoco histórico e clareia o que este estudo procura
mostrar, de que, a comunidade de Caaró foi para a beira do Yabebiri, na Bacia
do rio Paraná e os de São Cristóvão, São Carlos e os Apóstolos São Pedro e São
Paulo formaram a nova Redução de Mártires do Japão, na Bacia do Rio Uruguai, no
local onde hoje conhecemos a Redução de Mártires do Japão.
Um segundo
texto comprova a tese, postado no relatório dos Jesuítas no Livro ‘Jesuítas e
Bandeirantes no Tape 1615-1641’ (p. 185) onde fala das Reduções do Grande Rio
Paraná, nele diz que há neste rio sete reduções das mais antigas de todas estas
missões, três que desde o início foram fundadas no interior com índios naturais
do mesmo rio, as outras quatro estão por causa das invasões que faziam os
vizinhos de São Paulo, foram reestabelecidos os de Caaró e Candelária.
Alimentos
Revalidando
a ideia o mesmo provincial na (P. 200) escreve sobre Loreto e San Ignácio
(Mini) dizendo que já têm tantos alimentos que podem dar quantidades como
fizeram com as do Caaró e Candelaria, que deixaram suas aldeias por causa dos
mesmos inimigos. As pessoas do Caaró foram recebidas, dando-lhes casa e comida,
compartilhando com eles suas chácaras e semeaduras as quais não precisavam pela
grande quantidade de comida que tinham. Prova disto está o escrito do
provincial na (p.224-225) que diz que de Caaró estavam chegando o padre
Geronimo Porcel e o padre Pasqual Garcia que vieram fugindo e se retirando do
inimigo. Reuni os caciques de Loreto e San Ignácio à medida que as pessoas são
muito caridosas e têm suas aldeias muito abundantes e então todos foram
oferecidos com muita liberalidade para tê-los em suas aldeias e sustentá-los.
Destes
textos é de inferir que os atuais moradores do município de Mártires que está à
beira do rio Yabebiri têm em muitas de suas famílias descendentes das antigas
famílias que estiveram ao lado do Santo Roque Gonzales de Santa Cruz e Afonso
Rodrigues quando da formação da Redução dos Santos Mártires do Caaró de 1628,
motivo pelo qual o município herdou o nome que tem hoje.
Tema intrigante
Outro tema
intrigante é um conjunto de achados arqueológicos que se encontraram nos
últimos dias e que carecem de levantamentos de maior profundidade, pois
demonstram que no território do município de Mártires possivelmente têm
vestígios arqueológicos de assentamentos Jesuítico-guarani o que coloca o
município como de um grande potencial para estudos científicos na área da
história e cultura missioneira, além do óbvio potencial antropológico pelos
traços de seus habitantes.
Mártires, Misiones, Argentina. 13 de novembro de 2017.
José Roberto de Oliveira
Pesquisador
+55.55.9.9638.6360
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