BELO HORIZONTE/MINAS
GERAIS – BRASIL- Itabira, Itambé do Mato Dentro e Morro do Pilar – Uma nova
travessia que percorre 40 quilômetros por trilhas de tropeiros, vestígios arqueológicos,
formações que agem como divisores de águas, cânions e passagens arriscadas será
o mais novo roteiro do cardápio de atrações do Parque Nacional da Serra do Cipó
(Parna Cipó), na Região Central de Minas Gerais.
A aventura da “Travessia Alto Palácio – Serra dos
Alves” começa em Morro do Pilar e percorre campos rupestres de Itambé do Mato
Dentro, chegando ao pequeno distrito de Serra dos Alves, em Itabira. A rota
contará inclusive com uma parceria com empresa de turismo, para agendar visitas
e contratar guias locais.
Roteiro
O roteiro tem sido traçado com a ajuda de
voluntários, para fazer as demarcações das trilhas e reparos nos dois abrigos
que se encontram no caminho da viagem, programada para durar três dias, com
dois pernoites. A reportagem do Estado de Minas percorreu esse caminho, que, da
forma como está, representa a mais radical e difícil atração do Parna Cipó.
“Por enquanto, é uma trilha-piloto. À medida que as pessoas e voluntários a
percorrem é que os roteiros acabam sendo marcados”, afirma Edward Elias Júnior,
participante da gestão integrada do parque e da Área de Proteção Ambiental do
Morro da Pedreira, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio).
Agendamento
Ao contrário das demais atrações, como a Cachoeira
da Farofa e o Cânion das Bandeirinhas, para realizar essa travessia é
necessário um agendamento com a administração do parque, além de assinatura de
um termo de responsabilidade, descrição do trajeto adotado e do tempo gasto.
Medidas consideradas fundamentais para uma travessia tão longa e perigosa,
principalmente para o acionamento de auxílio em caso de necessidade. A direção
da unidade de conservação recomenda a contratação de guias locais para o deslocamento
e até fornece as coordenadas de GPS para os aventureiros que sabem navegar com
uso do dispositivo.
O desafio
O desafio começa de forma leve, na antiga sede do
parque, em Morro do Pilar, atualmente um posto avançado de controle muito
utilizado como base durante a temporada de incêndios. O local, conhecido como
Alto Palácio, na porção ocidental da unidade, tem uma trilha bem demarcada, que
percorre morros de pequena inclinação, uma boa forma de ir esquentando os
músculos para o que está por vir. O primeiro mirante surge ao fim dos seis
quilômetros iniciais. Dele se divisam nos vales amplos o curso de riachos de
águas amareladas e os afloramentos de quartzito na vegetação rasteira de campos
rupestres, uma paisagem que domina 80% da unidade de conservação.
Marcas ancestrais
Dois quilômetros adiante, e uma das rochas pontudas
pelo caminho exibe pinturas rupestres com cenas de caçadas, animais de grande
porte e contagens primitivas, mostrando ter sido aquele um abrigo rústico de
caçadores pré-históricos da região. Ali perto, onde brotam algumas nascentes,
as grandes rochas apresentam sinais de que ainda servem de abrigo para pessoas
que pernoitam por lá, principalmente devido aos círculos de pedras chamuscadas
por antigas fogueiras. Duas infrações que podem render multas, já que não é
permitido pernoitar no parque fora dos dois abrigos específicos para a
travessia e a montagem de fogueiras também é proibida, devido ao risco alto de
incêndios. No trecho, cursos d’água escondidos sob a vegetação são um risco p
ara se ter torções.
O obstáculo mais difícil
Em frente, encontra-se o mais difícil obstáculo de
todo trajeto: o “Travessão”, a 1.052 metros de altitude. Essa formação rochosa
é a única passagem por uma garganta que tem de um lado uma cachoeira de 25
metros e forte inclinação e, do outro, um paredão. Sem o apoio de uma corda e
equipamento de rapel, a descida é extremamente arriscada, mas ainda possível
pela parte com vegetação na encosta, onde a inclinação chega a ser de 80 graus.
A cobertura vegetal é instável e nesse ponto é preciso toda a atenção para que
tombos e escorregões não terminem numa queda nas pedras e no córrego abaixo,
acidente que pode ser fatal. O Travessão é também um divisor de águas das
bacias hidrográficas dos rios São Francisco, a Oeste, e Doce, a Leste.
Travessia entre cachoeiras e despenhadeiros
Após o Travessão, a caminhada ganha rapidamente
elevação, chegando aos 1.409 metros. É o trecho onde se avista melhor o cânion
do Rio do Peixe. À frente se abre um vale com paredões, despenhadeiros e montes
de rochas íngremes. Desses maciços despencam cachoeiras e cascatas que formam
poços e lagos. Vários pontos ainda não dispõem de trilha batida nem demarcação de estacas. Sem conhecer os
caminhos, é fácil se perder, mesmo com apoio do GPS, o que exige retornos,
reconhecimento de área e atrasos que custam tempo e resistência física. São
cinco quilômetros até o primeiro ponto de apoio, um barracão chamado Casa de
Tábuas, indicado para encerrar o primei ro dia, após 16,57 quilômetros (veja
mapa). A construção é anterior à criação do parque e servia como ponto para
descanso de viajantes que cruzavam a região. Ali há um fogão a lenha antigo e
quem passa por lá acaba sempre deixando algum alimento ou utensílio para
aliviar a carga transportada, o que serve para abastecer um aventureiro que porventura
necessite.
A Casa de Tábuas pode ser usada para fazer as
refeições, mas a recomendação do parque é para que se acampe em barracas ao
redor e que se evite usar o fogão a lenha. Mas à noite, numa altitude de 1.412
metros, o vento é forte e as barracas precisam estar bem ancoradas para não
sair voando. O céu estrelado e o som das
corredeiras compensam as rajadas e tornam a noite agradável. A marcha do
segundo dia, de 11,3 quilômetros, vai da Casa de Tábuas até o outro abrigo,
chamado Currais, um antigo rancho de pau a pique. Nessa caminhada se atingem as
maiores altitudes da jornada, chegando aos 1.665 metros. Mais uma vez, a
deficiência de demarcações pode levar a atrasos.
A última parte
A terceira e última parte é a trilha de 12,6
quilômetros dos Currais ao distrito de Serra dos Alves. É uma caminhada que,
apesar de feita em sua maioria em inclinações suaves ou descidas, exige muito
dos pés, sobretudo pelo grande número de pedras soltas que podem levar a
torções. O distrito é pequeno, só tem estradas de terra e ônibus uma vez por
semana. Por isso, é importante se programar.
Coluna
Minas TURISMO Gerais
Jornalista
Sérgio Moreira - Informações
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